As belezas e a importância do Cerrado Brasileiro.
Você conhece o cerrado?
O Cerrado conecta quatro dos cinco biomas do Brasil.
O cerrado brasileiro inclui todo o estado de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, sul e leste de Mato Grosso, oeste da Bahia, oeste e norte de Minas Gerais, sul e leste do Maranhão, norte e sul do Piauí- prolonga-se em áreas disjuntas no extremo norte do Pará, uma pequena porção do Amapá, Roraima e Rondônia, e para o sul, existem áreas disjuntas cobrindo um quinto do Estado de São Paulo. Atualmente, estima-se que restam apenas 0,24% da área no norte do estado do Paraná.
Cerrado: Assim era no princípio
Tem muito mais história do que podemos imaginar
O Cerrado é um dos biomas mais antigos e biodiversos do mundo. Começou a se formar no período Cenozoico há pelo menos 40 milhões de anos. Naquela época ainda existiam nos chapadões centrais os elefantes, conhecidos como Haplomastodon; preguiças gigantes, conhecidas como Eremotherium; tatus gigantes, conhecidos como Gliptodontes e tantos outros gigantes que compunham a megafauna da América do Sul. Perseguindo esses animais, havia um grande predador, oriundo da América do Norte, conhecido pelo nome popular de tigre-dente-de-sabre, grande felino do gênero Smilodon.
Homo-Cerratensis
Uma incrível jornada humana
Os primeiros ancestrais das populações indígenas que hoje ainda habitam a área do cerrado chegaram a estas regiões por volta de 11.000 anos Antes do Presente. Vieram através de migrações de levas sucessivas em épocas diferentes, muitas dessas levas tinham parentesco genético e cultural.
A expressão Homo-cerratensis foi criada pelo historiador Paulo Bertran para batizar simbolicamente a descoberta do esqueleto humano como um dos mais antigos das Américas em escavação arqueológica realizada na região de Serranópolis-Goiás feita pelo antropólogo Altair Sales Barbosa.
Cerrado é uma floresta de ponta cabeça
O Cerrado é insubstituível para a distribuição de água no Brasil
O Cerrado é como uma floresta ao contrário, suas árvores são como uma “esponja gigante”. As raízes são profundas, maiores que as copas, o que permite que as árvores frutifiquem e se reproduzam, mesmo durante a seca. As raízes são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá- la em reservas subterrâneas, chamados de aquíferos
O Cerrado tem solos muito argilosos, com uma boa capacidade de drenagem de água, mas depende também da cobertura vegetal que faz a ponte entre a atmosfera e o solo. O Cerrado é fundamental para o abastecimento de água e, consequentemente, para as cidades, para a agricultura e para a geração de energia no país.
Cerrado é a caixa d’água do país
A magnitude do Cerrado também está embaixo da terra
O Cerrado funciona como uma grande caixa d’água, absorvendo e distribuindo água para todos os biomas brasileiros. As plantas do Cerrado possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo, muito eficiente na absorção das águas pluviais. As raízes em geral são pelo menos três vezes maiores que os arbustos e árvores que estão acima do solo e sequestram 13,7 bilhões de toneladas de Carbono, ao mesmo tempo em que ajudam a repor e reter as águas subterrâneas.
Cerrado é o berço das águas do Brasil
O copo de água que você tomou hoje veio do Cerrado
O Cerrado é o berço das águas do Brasil, alimentando três importantes aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucuia. Das 12 bacias hidrográficas do Brasil, oito nascem nessa região do país, entre elas, as maiores da América do Sul – Amazônica, São Francisco e Prata. Devido a sua geografia de planaltos na porção central no Brasil, o bioma é uma das mais importantes fontes de água para o país com um total de 131.991 nascentes.
Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil
Está entre as savanas mais biodiversas do mundo
No Cerrado encontramos uma variedade de paisagens, fauna, flora e povos. Com a mais rica flora e fauna entre as savanas mundiais e alto grau de endemismo, o Cerrado tem um papel essencial para a conservação da biodiversidade e regulação do clima mundial. Ao abrigar 5% de todas as espécies no mundo e 30% das espécies do país (32% das quais são únicas), o bioma é importante sumidouro e reserva de carbono global.
Cerrado, patrimônio nacional
As diferentes formas de ser Cerrado
Nem só de árvores tortas vive o Cerrado que é um mosaico de paisagens florestais, savânicas e campestres com uma grande variedade de cactos, bromélias, orquídeas e palmeiras. De um total de mais de 46 mil espécies vegetais no Brasil, 13.566 estão no domínio do Cerrado (Flora do Brasil 2020). A grande diversidade de habitats resulta em transições notáveis entre as diferentes tipologias de vegetação.
A fauna está ligada com a flora do Cerrado
Sem bicho, o Cerrado morre.
Você já comeu a Araticum do Cerrado (Annona coriacea)? A germinação do araticum ocorre somente após o fruto passar pelo intestino delgado de algum canídeo nativo do Cerrado como o lobo-guará, o cachorro-do-mato ou a raposa campestre que espalham suas sementes por onde passa ao defecar e isso impacta diretamente na preservação de espécies vegetais, portanto, o araticum depende desses animais para quebrar a dormência de suas sementes e espalhar pelo Cerrado.
Você já ouviu falar do Pequi?
Se não tiver flor, não tem fruto; se não tiver fruto, não tem comida.
Pequi é um fruto típico do Cerrado, cujo nome vem do Tupi e significa “pele espinhenta” é o fruto mais conhecido e está entre os mais consumidos do Cerrado. O pequi depende da polinização das abelhas, dos beija- flores e, principalmente, dos morcegos. Os frutos são dispersos por morcegos e por mamíferos terrestres, como o lobo-guará ou as antas. Já as aves como os papagaios ou as araras consomem o pequi, se alimentam do fruto, da castanha e as sementes. Sem os animais, não teríamos pequi pra comer numa galinhada ou arroz com pequi.
O Fogo no Cerrado
O fogo tem importância ecológica e social no Cerrado
No Cerrado, o fogo é utilizado de diversas formas além do cultivo de alimentos, envolvendo também o extrativismo, a criação animal e o manejo ambiental. Quanto ao agroextrativismo, o uso tradicional do fogo é fundamental no manejo de áreas produtivas, favorecendo a rebrota do capim dourado, no Jalapão, Tocantins e no Oeste da Bahia; e flores sempre-vivas, na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais.
A ausência de fogo manejado no Cerrado na época certa pode implicar no acúmulo de biomassa, o que facilita a propagação de incêndios, que podem alcançar efeitos devastadores na estação seca.
Os incêndios florestais provocados causam a devastação ambiental, ao mesmo tempo, ameaça os povos e comunidades de seus territórios de vida.
O Cerrado é uma farmácia
A “sabedoria medicinal” das comunidades do Cerrado
O conceito de plantas medicinais está relacionado à presença de substâncias bioativas e com propriedades terapêuticas, profiláticas que melhoram a qualidade de vida dos seres humanos.
O Cerrado possui mais de 600 espécies medicinais catalogadas. A rica biodiversidade do Cerrado oferece raízes, cascas, óleos e folhas que são transformados em xaropes, pomadas, cremes, sabonetes, balas, pílulas, chás, óleos, tinturas e garrafadas (mistura com bebida alcoólica) que há séculos são manipulados pelos povos indígenas e comunidades tradicionais para o tratamento e cura de várias enfermidades. Essa prática de raizeiras, benzedeiras e parteiras é passada de geração em geração. Mantêr o Cerrado em pé é mantêr a memória coletiva dos povos do Cerrado.
No Cerrado tem Gente
Povos indígenas, uma enciclopédia viva
Os primeiros ancestrais das populações indígenas chegaram a área do Cerrado por volta de 13.000 anos A.P (Antes do Presente). No Brasil Central, as diferenciações linguísticas, os sistemas de organizações sociais e ideológicos foram se sedimentando ao longo do tempo, aumentando a diferenciação entre os grupos ou povos.
A maior parte deles inventou ou incorporou novas tecnologias ao seu cotidiano, como a cerâmica, as ferramentas de pedra polida e a domesticação de algumas espécies vegetais, desenvolvidas localmente ou aprendidas por intercâmbio, cujo impacto positivo se refletiu no crescente demográfico (Barbosa 2016).
A população indígena que povoou o Cerrado não produziu qualquer modificação brusca no equilíbrio do ecossistema, mas sofrem com invasões nas suas terras. Para os povos indígenas, a garantia de seus direitos à terra é fundamental para manter sua identidade coletiva e sua autodeterminação.
Cerrado, Velho Sábio
As comunidades tradicionais são guardiãs da biodiversidade
Os guardiões do Cerrado são os povos indígenas (Xavantes, Kraô-Kanela, Tapuias, Guarani Kaiowá, Terena, Xacriabas, Apinajé, Xerente, outros), quilombolas, apanhadoras de flores sempre-vivas, geraizeiros, quebradores de coco babaçu, vazanteiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, barranqueiros, fundo e fecho de pasto, ciganos, entre tantos outros. Eles têm defendido as matas nativas, as águas, os bichos e a biodiversidade com seus próprios corpos.
O Cerrado abriga em torno de 216 terras indígenas (TIs) e 44 territórios quilombolas. Garantir a permanência desses povos em seus territórios é conservar o bioma, suas riquezas e todos os benefícios que o Cerrado traz para a sociedade brasileira.
Cerrado, sob ameaça
Preservar o Cerrado não é questão de escolha, mas de sobrevivência da vida.
A conversão generalizada das terras para a agricultura degradou e enfraqueceu ecossistemas que antes eram resistentes, facilitou o alastramento de capins africanos invasores introduzidos para alimentar o gado, reduziu o potencial de sequestro de carbono do bioma e diminuiu a disponibilidade e a qualidade da água não só na savana, mas também nas grandes cidades brasileiras que dependem dos aquíferos do Cerrado.
O Cerrado em perigo!!!
O Desmatamento no Cerrado pode fazer faltar água no Brasil todo!
A vegetação nativa está desaparecendo. Em toda parte, a flora local está sendo cortada, derrubada e incendiada – e os sistemas de raízes subterrâneas são arrancados e queimados para abrir caminho para o gado, a cana-de-açúcar, o eucalipto, a soja e o algodão. Com a substituição da vegetação nativa por pasto para gado (36% do rebanho do país) e plantação de soja (mais de 63% de todo grão brasileiro), os aquíferos não recebem água e deixam de abastecer diversas nascentes. Além disso, os povos indígenas e comunidades tradicionais estão sofrendo violência e expulsões, o que leva a muitos conflitos pela terra e pela água.
Proteger o Cerrado
É uma questão de segurança nacional
Apenas 8,3% do Cerrado é legalmente protegido por unidades de conservação; 3,1% são unidades de conservação de proteção integral e 5,2% unidades de conservação de uso sustentável. Essas áreas são importantes à manutenção da biodiversidade, à proteção de espécies ameaçadas e provisão de água, além de proporcionar meios e incentivos para o desenvolvimento de pesquisas, educação ambiental e uso público.
É preciso restaurar a vegetação nativa do Cerrado, pois mais da metade já foi destruída. Para isso, é preciso considerar especialmente as gramíneas e os arbustos que representam mais de 60% da diversidade de sua flora (cerca de 7 mil espécies), além de exercer funções ecológicas fundamentais. A restauração fortalece os povos e comunidades tradicionais, que no papel de detentores de conhecimento e áreas ricas em biodiversidade podem, através da produção de sementes e mudas, ter mais uma fonte de renda e mercado.